Apesar de ter significado relativamente semelhante nas sociedades ocidentais, a aposentadoria pode apresentar diferenças regionais dentro de um mesmo país, ou mesmo em uma determinada organização, em razão das diferentes atividades realizadas. Sem contar que são diversos os tipos de aposentadoria (por idade, tempo de serviço, invalidez, acidente de trabalho, especial etc.), acrescidas ao fato de que todas essas modalidades são vivenciadas por indivíduos diferentes, tendo cada um suas especificidades, tornando-se ainda mais difícil de se ter um único olhar.
No setor público, existem aspectos específicos no que se refere às regras trabalhistas e previdenciárias, como a estabilidade no emprego e a possibilidade de proventos integrais na aposentadoria, que tendem a fazer com que o servidor permaneça trabalhando no mesmo órgão ou setor por muitos anos, geralmente até chegar ao final da vida laboral. Além disso, com as mudanças nas regras da aposentadoria no setor público que vêm ocorrendo nas últimas décadas, tem se tornado cada vez mais frequente o envelhecimento no trabalho.
Por ser um fenômeno emergente, ainda não se tem conhecimento acumulado sobre as atitudes dos trabalhadores e das organizações de trabalho acerca da aposentadoria. Pesquisas que possam aprofundar o conhecimento das atitudes, mitos, preconceitos, impactos e principais fatores que podem influenciar a qualidade de vida dos trabalhadores na fase de transição para aposentadoria poderão auxiliar na formulação de políticas e ações governamentais e não governamentais, contribuindo para o bem-estar dos aposentados e de suas famílias.
Socialmente construído, o significado do trabalho tem variado ao longo da história humana, refletindo o cenário do sistema produtivo, desde suas formas mais rudimentares até a atualidade. Diferente dos animais, o homem atua intencionalmente sobre o meio para obter o que necessita. Assim, o trabalho é uma ação tipicamente humana. Por meio do trabalho o homem atua sobre a natureza, transformando-a e, ao mesmo tempo, transformando sua própria natureza.
Na sociedade contemporânea, o trabalho é o principal ordenador da vida: regras, horários, atividades e interações sociais organizam-se de acordo com às exigências impostas pelas tarefas. A importância do trabalho na vida das pessoas começa antes mesmo do seu início, com a preparação para o trabalho, desde tenra idade, quando se destaca a ação da família e da estrutura de ensino. A etapa do trabalho propriamente dita ocupa parte significativa de cada dia e geralmente dura cerca de 30 ou 35 anos. Já a etapa do pós-trabalho, a aposentadoria, pode representar mais de 30 anos, com os avanços da medicina e a melhoria da qualidade de vida.
Os significados conferidos ao trabalho e à aposentadoria são permeados pela lógica produzida pelo sistema capitalista, no qual o indivíduo é valorizado enquanto produz segundo as relações capitalistas de produção. Em muitos casos, a aposentadoria é vista como uma situação em que o indivíduo se sente desvalorizado por não mais ser participante da população ativa e estar assim se tornando velho e improdutivo. Nesse contexto, o fato de o aposentado “depender” da sociedade, implanta no imaginário social o estigma da inatividade, que passa a acompanhar os demais momentos da vida após a aposentadoria.
Segundo o Dicionário Aurélio, aposentadoria é definida como o “ato de aposentar; estado do empregado ou funcionário (civil ou militar) que, tendo atingido certa idade, certo tempo de serviço ou por motivo de saúde, é posto em inatividade (grifo nosso) e passa a receber uma pensão; reforma (para militares)”. Nesse dicionário também é mencionado que “inativo” significa “que não tem atividade; inerte: ficar inativo. / Paralisado, paralítico […] / Reformado ou aposentado (falando-se de militares, empregados ou funcionários).
A aposentadoria está, geralmente, associada ao fato de retirar-se da vida pública, recolher-se aos aposentos, ao espaço privado, ao não-trabalho. Mas, em outra perspectiva, aposentadoria é considerada um prêmio e o reconhecimento pelo trabalho realizado ao longo da vida. É a etapa da vida em que o trabalhador está “legalmente liberado de um compromisso formal”.
Nesse sentido, a aposentadoria tanto pode ser vista como algo que representa a libertação de horários e da rotina, como a perda de referência, deixando o trabalhador sem saber o que fazer com o tempo livre. Algumas pessoas veem a aposentadoria como uma oportunidade de realizar novos projetos de vida e se dedicar a uma atividade intelectual, desportiva ou social, postergada por uma intensa vida de trabalho. O fato é que somos nós que atribuímos o significado que essa fase da vida terá.
Este texto faz parte do livro “Envelhecimento Ativo e seus Fundamentos”. São 19 artigos produzidos por pesquisadores do Programa de Estudos Pós-Graduados em Gerontologia da PUC-SP. O livro tem 572 páginas e está dividido em quatro sessões: Vida Saudável, Vida Ativa, Seguridade Social e Educação Permanente.
FONTE DA NOTÍCIA | Portal do Envelhecimento