Planejar a aposentadoria envolve, principalmente, números – e entre eles há um que a maioria das pessoas dá como garantido ou nem sequer considera. É dado como certo que a aposentadoria se trata de dinheiro. Quanto recurso devemos ter para garantir segurança financeira? Nos Estados Unidos, uma empresa de serviços financeiros até lançou uma campanha publicitária onde as pessoas perguntavam: “Qual é o meu número?” O anúncio retratava pessoas caminhando pela rua com imagens de grandes quantias de dinheiro sobre suas cabeças.
Outros números também se tornam parte da vida das pessoas na aposentadoria. Pressão arterial, colesterol bom e ruim, índice de massa corporal e demais medidas que indicam sobre a saúde física e que se tornam parte de nossas preocupações diárias – ou, pelo menos, de conversas com o médico.
Uma seguradora de saúde veiculou anúncios enfatizando que cada pessoa deve “conhecer seus números”. De muitas maneiras, os números que refletem a saúde e a riqueza se tornam equivalentes às notas de vestibular na velhice. E elas são, na melhor das hipóteses, uma aproximação incompleta de nosso futuro.
Mas outro número pode ser ainda mais indicativo de como se viverá na velhice: seu CEP (Código de Endereçamento Postal). Graças aos estudantes do curso Envelhecimento Global e Ambiente Construído, do MIT (Massachusetts Institute of Technology), temos pensado muito sobre o papel do lugar onde se vive a aposentadoria. O local da residência tem um impacto e poder significativos sobre como uma pessoa viverá.
Lugar e bem-estar são um tópico para muitos pesquisadores, especialmente aqueles que examinam disparidades de saúde entre renda, raça e outros grupos. O título de uma pesquisa resume a questão melhor com relação aos resultados de saúde de mães e crianças: “Por que seu CEP importa mais do que seu código genético.”
Um estudo recente, realizado por pesquisadores da Escola de Medicina Grossman, da Universidade de Nova York, fornece novas informações sobre como o lugar afeta a expectativa de vida: fatores como acesso a alimentos de qualidade; densidade de lojas de álcool e tabaco; acessibilidade; parques e áreas verdes; características habitacionais; e poluição do ar, todos têm algum impacto na expectativa de vida.
Este estudo (e muitos outros) indicam que dentro da mesma área metropolitana, ou até em uma mesma cidade, a expectativa e qualidade de vida podem variar muito. Às vezes, apenas alguns quarteirões podem significar muitos anos a mais de vida.
PLANEJAMENTO DE LONGEVIDADE E AVALIAÇÃO DE “ONDE” VIVER NA APOSENTADORIA
Enquanto o planejar a aposentadoria continua focado em dinheiro, ter uma visão de planejamento de longevidade exige que as pessoas pensem, além da segurança, na sua qualidade de vida geral ao longo do tempo – especialmente na velhice. Então, como podemos pensar no fator de “localização” na terceira idade?
A maioria acredita que a moradia na aposentadoria é respondida pelo local que se vive agora – ou seja, escolhemos envelhecer no mesmo lugar e ficar onde estamos. No entanto, à medida do envelhecimento, as necessidades, desejos, condições de saúde, conexões sociais e muito mais também mudarão. Isso pode criar uma desconexão entre o que funciona agora e o que funcionará mais tarde.
Outros planejam se mudar, mas têm visões de “folhetos de aposentadoria” em suas cabeças. Essas imagens retratam a fase como férias intermináveis – uma vida cheia de praias, bicicletas e muito mais. A aposentadoria, provavelmente, será um período longo. Para muitas pessoas, pode ser um terço da vida adulta. Escolher onde morar, com base em interesses recreativos ou lembranças de férias, pode não sustentar uma vida saudável na terceira idade por décadas.
Em seu excelente livro “Right Place, Right Time” (Lugar Certo, Hora Certa, em tradução livre), o especialista em envelhecimento saudável, Ryan Frederick, aponta: “A oportunidade do lugar para garantir nossas vidas é onipresente. Precisamos estar cientes de seu impacto, avaliar a adequação de nosso ambiente atual e ter a coragem de agir quando necessário.”
Aqui estão algumas perguntas a serem consideradas e discutidas ao avaliar o “onde” em seu planejamento de longevidade.
Você tem amigos ou familiares por perto?
Sua localização reúne lugares e espaços que oferecem oportunidades para conhecer novas pessoas, continuar investindo em seu portfólio social de amigos e estar perto de pessoas que te fazem sorrir?
Onde você pode obter os cuidados de saúde de que precisa?
Apenas ter um pronto-socorro ou consultório médico nas proximidades não significa que o atendimento fornecido nesses lugares seja o que você precisa. Avalie suas condições de saúde e os especialistas que estão por perto.
Existem lugares para se divertir, trocar experiências e se juntar a outras pessoas em algo novo?
Não, você pode não ir ao museu, teatro, estádio, cursos ou qualquer outra distração de lazer todos os dias, mas é bom ter escolhas.
Há locais em que possa trabalhar ou ser voluntário?
Eles oferecem flexibilidade para ser voluntário ou trabalhar em tempo integral, meio período ou apenas algumas horas?
Como você chegará aos lugares que precisa e deseja?
Mesmo que você dirija, caminhe ou ande de bicicleta hoje, será capaz ou terá essa disposição no futuro? Existem alternativas de transporte para fazer os deslocamentos necessários (como ir às compras e ou a consultas médicas) e para lazer?
Estas são apenas algumas perguntas para você começar. Existem muitas outras. O Índice de Habitabilidade da AARP (principal organização norte-americana para pessoas com mais de 50 anos de idade) oferece uma ótima ferramenta para começar seu planejamento e fazer uma escolha assertiva sobre onde você irá viver. E sim, começa pelo CEP.
Fonte da matéria | Revista Forbes Brasil